O Início do Fim parte 2

(continuando o post anterior – desculpem a demora, mas depois de tanto tempo fora a internet estava suspensa e demorou até reinstalarem)

Saimos de Cape Town mas não sem antes passar na Robben Island, prisão em uma ilha estilo Alcatraz que recebeu os principais líderes negros na época do Apartheid, incluindo Nelson Mandela. Segundo o Sérgio, a prisão parece, de uma forma bizarra, com a escola onde ele cursou o 2o grau. O passeio é legal pela história e pela paixão transmitida por alguns dos guias, entre eles, alguns ex-presos dali. Como passeio propriamente dito é algo que vale a pena fazer mas não é imperdível. Após a Robben Island, iniciamos nossa jornada de volta a Johannesburgo. Viajamos por 500 km até a cidade de Knysna, uma das principais da Garden Route (principal rota turística da África do Sul) onde passamos a noite.

A cada 3 desses dava um jogo de bola de sinuca

Acordamos em Knysna e reiniciamos nossa viagem, parando no Knysna Elephant Park logo no início onde fizemos um tour que incluia alimentar e passear com elefantes. Eu quis fazer o passeio montado em um Elefante mas só havia horário para o final da tarde o que impediria o prosseguimento da nossa viagem. Um dos elefantes menores, ainda bebê, era completamente do mal. Assim que chegávamos com o balde de comida ele avançava nas pessoas mugindo ou sabe-se lá como se chama o som que os elefantes fazem. Ele foi rapidamente apelidado de Felipe Melo pelo pai da Mariana o que se tornou ainda mais perfeito quando os treinadores viram que não daria certo deixá-lo ali e tiraram ele da área destinada aos turistas.

Pronto pra pular dessa ponte aí

Andamos um pouco mais a frente até a ponte de Bloukrans (uns 70km de Knysna) onde fica o maior bungee jump comercial do mundo. Passamos metade da viagem discutindo se teríamos ou não coragem de pular, e resolvemos não marcar com antecedência(tem que pagar online na hora que agenda) e simplesmente aparecer lá e ver se tinha horário. A verdade é que já sabíamos que dificilmente teria, mas isso era, de certa forma, desejado por alguns dos grupo. Aconteceu portanto o óbvio, chegamos lá e estava lotado, para aquele dia e o seguinte. Sentamos então pra almoçar no restaurante enquanto víamos os outros pulos mas pedimos que nos chamassem no restaurante caso alguém não aparecesse. Já no apagar das luzes, quando eu digitava a senha do cartão pra pagar a conta e ir embora, o cara da organização chegou e disse que tinha 2 vagas. Fomos eu e o Gustavo(irmão da Mariana).

1...2...3 e já

Cagaço a parte, a sensação é animal. Aliás, toda a experiência é animal. Começa com a caminhada por debaixo da ponte que já é do mal. Você pisa sobre uma tela de arame que deforma para baixo quando você coloca seu peso sobre ela. O medo de cair ali é maior do que do salto em si. Já debaixo da Ponte(há uma base no meio do arco) tem DJ colocando musica animada e os técnicos fazendo movimentos de puxar as cordas coreografados com a música. Aquilo tudo te destrai um pouco do que estar por vir. Na hora que te chamam para amarrar as cordas bate o medo. Sabe aquele toque clichê de não olhar para baixo? Pois é, todo mundo diz justamente por que funciona. Você tem que chegar andando até a beirinha da ponte(os dedos do pé ficam para fora). Os caras não te empurram para pular, apenas te largam para você ir, mas de uma forma onde você já está tombado para frente onde suas opções são pular ou simplesmente cair. Não tem volta. Os primeiros segundos simplesmente desaparecem da memória tamanha a intensidade da situação. Mas a corda traciona de uma forma tranquila que não dá medo, ou o que é mais provável, seu corpo produz alguma substancia que corta o medo. Não dá nem aquele frio na barriga de montanha russa. Simplesmente você começa a ouvir o barulho do vento no ouvido enquanto cai em queda livre. Desagradável apenas o fato de que o sangue vai todo para a cabeça. Doi um pouco e incomoda bastante. Você chega a lacrimejar a cada vez que desce e dá um super alivio quando a corda te puxa novamente para cima.

Meio anestesiados pela adrenalina da situação, seguimos dali para Craddock(+450km), uma cidade que qualificou como cidade para passar a noite apenas por ter algum hotel citado no guia de viagens Lonely Planet (haviam 4 opções no guia). Mais uma vez nos sentimos parte de uma experiência antropológica, tanto para nós, quanto para os moradores da cidade que claramente nunca viram ninguém de outro país. A dona da pousada veio nos avisar que havia um esporte chamado Rugbi passando na TV enquanto a dona da loja em frente ao hotel foi até lá para se apresentar e nos convidar a conhecer sua loja do outro lado da rua. Me senti tipo o Edward Mãos de Tesoura sendo apresentado para a cidade sabe?

De Craddock a Johannesburgo foram os ultimos 750km de viagem que seriam tranquilos se não fosse o do pneu traseiro direito ter estourado quando estavamos a 130km/h. Não furou, estourou. Quando o carro parou só restava a roda. Apesar do susto, deu pra manter o carro estável até pararmos no acostamento. Depois de tantos dias fora, Johannesburgo, e principalmente a pousada do Seu Peter(como aprendemos a chamá-lo) já parecia como uma volta para casa. Poder deitar de novo na cama aquecida pelo Pre-heat, e voltar a fazer piadas culpando o Blessing(funcionário da Pousada) de tudo.

Mas a estadia foi curta pois chegamos a noite e no dia seguinte já era a final. Pela manhã passamos pela Gold Reef City que é um parque de diversões em cima de uma antiga mina desativada de ouro. Fizemos um passeio pela mina onde chegamos a conclusão que preferíamos(e é sério) ficar preso junto com o Mandela a trabalhar ali. Depois do parque, teve A Final!

Pra que dinheiro? Eu quero é esculachar!

Ah, a Final! Se a Holanda ganhasse eu acho que eu faturaria o bolão aqui o que me daria um premio de R$ 750 reais. No entanto, a possibilidade de esculachar os holandeses valia para mim mais do que isso. E munido da bandeira espanhola cheguei no estádio já dizendo: “Holland, almost wining the World Cup since 1974”. Para os que tentavam me sacanear pela camisa da seleção(que eu vestia por debaixo da bandeira) eu já dizia: “Cadê as estrelinhas da sua camisa? Esse leãozinho aí do peito comeu?” ou “Sabe o que significam 5 estrelas juntas? Que nós somos melhores que vocês”.

Ir pra Copa é ótimo, estar na final é melhor ainda. E eu tive certeza disso quando a Shakira apareceu no campo rebolando e dançando a Waka Waka. Até me esqueci que tinha jogo depois. Ficou novamente aquela putidão do Brasil não estar ali, mas pelo menos a Espanha ganhou. E novamente eu pude me esbaldar em cima dos Holandeses que infelizmente pareceram pouco putos comigo. É aquele espirito de perdedor que acha que 2o lugar também presta.

Participar da Copa foi ótimo. Para não dizer que não faria nada diferente, eu teria comprado menos ingressos. Não que eu veria menos jogos, apenas deixaria de comprar os que eu tive que vender depois por que deu um pouco de trabalho. Além disso eu talvez ficasse mais tempo em Durban pois voltar para ver EUA x Ghana foi foda, mas quando comprei achei que seria Inglaterra x Ghana e se fosse teria valido a pena, então é uma decisão que eu só posso lamentar depois pois de início ainda acho que foi uma decisão correta. Viajar de carro pelo país foi maravilhoso. Nos deu a possibilidade de fazer muito mais coisas e conhecer muito mais lugares. Eu por exemplo não pularia de bungee jump se não fosse o fato de estar viajando pela Golden Route. Foi uma viagem sensacional, mas ter vivido os jogos do Brasil na Copa ficou a sensação de que se o Brasil estivesse na final teria sido um momento inexplicavemente foda que não dá para comparar com quase nenhum outro na vida. Hoje eu digo que o dia mais intenso/feliz que eu já tive foi sem dúvida nenhuma o dia que eu peguei a última nota na PUC e descobri que acabou. E eu nunca acreditei que o que eu senti nesse dia seria superado por algum outro sentimento na minha vida. Pela primeira vez eu achei que eu talvez fosse mais intenso, ou no mínimo equivalente se o Brasil tivesse ganho comigo lá. Não foi o caso, ainda, mas haverão outras copas.

Para finalizar essa história de Copa e poder a voltar a escrever sobre baboseiras aleatórias e outras boçalidades, vou fazer um último post, fazendo um dignóstico da competição sobre o olhar do torcedor participante. O que deu certo e o que deu errado e o que o Brasil precisa fazer para chegar lá.

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2 respostas para O Início do Fim parte 2

  1. May disse:

    Ok. De todas as coisas invejáveis que você fez nessa viagem o Bungee jump foi a mais.

  2. Paulinha disse:

    Muito bom o post! Gostei…. entre elefantes, leões e bungee jump, lembranças realmente não vão faltar… >)

    Rolou vídeo do pulo não?? Animal isso… nossa! Começar com o maior do mundo é foda… e o visu deve ser espetacular… *aiai

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